Mosquito carrega bactéria que impede a transmissão do vírus da dengue e pode funcionar também para zika
O Aedes comum. Ao ser modificado e portar uma bactéria específica, o mosquito não transmite o vírus da dengue às pessoas que ele pica. A esperança é que esse mesmo mecanismo também funcione para bloquear o vírus zika - divulgação
A Fiocruz soltará, em janeiro, mosquitos Aedes aegypti modificados com uma bactéria que impede a transmissão do vírus da dengue em uma cidade de até 400 mil habitantes, provavelmente dentro do Estado do Rio. A informação é do vice-presidente da Fiocruz, Rodrigo Stabeli. Segundo ele, esta operação, discutida em recente reunião com o ministro da Saúde, Marcelo Castro, terá os detalhes definidos no próximo dia 18. Por enquanto, ainda não se escolheu o município e não se sabe se serão espalhadas larvas ou mosquitos adultos.
A ação faz parte do projeto “Eliminar a Dengue: Desafio Brasil”, no qual, desde 2009, pesquisadores inserem no Aedes uma bactéria chamada Wolbachia, com uso de uma agulha. Não há mudança genética. Ao portar essa bactéria, o mosquito não transmite o vírus da dengue às pessoas que ele pica. A esperança é que esse mesmo mecanismo também funcione para bloquear o vírus zika.
— Países como Austrália e Vietnã fizeram isso e tiveram bons resultados no controle da dengue e do chicungunha. A Indonésia teve resultados satisfatórios também para o zika. Os dados são preliminares e não foram publicados ainda — conta Stabeli.
A Wolbachia está presente em mais de 60% dos insetos, como grilos, baratas e moscas. No entanto, aqueles que transmitem doenças infecciosas não possuem naturalmente essa bactéria.
— O interessante é que a Wolbachia é passada da fêmea para os filhotes, até um ponto em que a grande maioria dos mosquitos existentes não sejam mais transmissores — aspira ele.
Foto: Gutemberg Brito/ Fiocruz/ Divulgação |
DUAS REGIÕES DO ESTADO JÁ TÊM O INSETO
Semanalmente, esse tipo de mosquito já é liberado em dois lugares no estado. O primeiro a receber o projeto foi a região de Tubiacanga, na Ilha do Governador, ainda em setembro de 2014. Nessa ocasião, os mosquitos foram soltos por 20 semanas consecutivas, e, depois, a ação foi interrompida. Os pesquisadores voltaram ao lugar após um ano e, desde então, fazem a soltura a cada semana. A segunda cidade a participar do projeto foi Niterói, onde os novos insetos são liberados no bairro de Jurujuba.
O principal problema da primeira ação feita na Ilha foi que os mosquitos com a bactéria eram mais sensíveis a inseticidas do que os Aedes comuns. Isso colaborou para que eles morressem muito rapidamente. De início, os pesquisadores conseguiram que 65% da população de mosquitos da região fosse formada pelos insetos modificados, mas, pouco depois da interrupção das solturas, essa taxa caiu para 10%. O coordenador da equipe de entomologia do projeto, Rafael Freitas, garante que isso não acontece mais.
— Nesse último ano, melhoramos o mosquito. Nós inserimos a bactéria em um Aedes, o cruzamos com um encontrado na região em que queremos trabalhar e soltamos lá apenas os filhotes desse cruzamento. Assim, esse mosquito terá a bactéria, mas também terá as características resistentes do Aedes tradicional — diz ele.
Entretanto, para Paulo Ribolla, especialista em parasitologia da Unesp, modificar o mosquito não é a solução.
— Há grandes chances de que o Aedes desenvolva mutações e consiga se adaptar, continuando a transmitir vírus. O caminho deve ser acabar com criadouros, e não manter os insetos — acredita.
Fonte: O Globo
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