Há 17 anos a ação da PM, conhecida como “O massacre de Eldorado dos Carajás”, ocorrido em 1996, sul do Pará, assassinou 19 camponeses e expôs para todo o país e para o mundo a violência no campo contra aqueles que lutam pela Reforma Agrária. 16 anos! O que mudou? Dezesseis anos depois do massacre os conflitos no campo continuam e os trabalhadores rurais quando cobram, por exemplo, agilidade nas investigações sobre o assassinato, em abril deste ano, de um dirigente do MST na zona rural de Iguaí, no sudoeste baiano, são recebidos à bala! No Brasil, a desigualdade está entre as maiores do mundo: 1% dos proprietários detém 50% das terras.
Se não bastasse a violência praticada por grupos de fazendeiros, o Estado não age diferente. É a violência física, como a cometida pelo subsecretário de Segurança Pública, Ari de Pereira Oliveira, que atirou nos trabalhadores dentro da sede da SSP BA, e a jurídica, quando se utiliza do aparato judicial para impedir a perspectiva de uma Reforma Agrária concreta.
A Reforma é sistematicamente negada há séculos pelo poder público, apoiando o discurso dos grandes latifundiários. A posição dos líderes do movimento sem-terra é clara: o latifúndio é violento, autoritário, e impede as pessoas de viverem e trabalharem no Campo. Enquanto houver latifúndio, a desigualdade, violência, a pobreza e falta de democracia no Campo vão continuar.
O que podemos fazer? Protestar? É uma saída! Mas, que saída é essa em um país dito democrático que mata quem se opõe ao sistema? O que esperamos é equilíbrio e respeito dos representantes do governo para abrir um diálogo social com o MST e outros atores sociais, para resolver a questão da Reforma Agrária em nosso país.
De acordo com a socióloga Maria Victoria Benevides, “a democracia é o regime da soberania popular, exige o respeito integral aos direitos humanos, das minorias. Mas também estamos exigindo a justiça social, que é a garantia de direitos econômicos, sociais, culturais e ambientais para todos e todas. A partir dessas definições, vemos que não existe no Brasil nem República, nem Democracia.”.
A Reforma Agrária proposta pelo MST é a melhor divisão das terras brasileiras, com medidas complementares ao assentamento: eletrificação, irrigação, concessão de créditos rurais e apoio técnico. Diferente do que muitos pensam, lutar pela Reforma Agrária não é somente a luta apenas pelo direito a um pedaço de chão, é a reafirmação de um Direito Humano.
Quando eu morrer
Cansado de guerra
Morro de bem
Com a minha terra:
Cana, caqui
Inhame, abóbora
Onde só vento se semeava outrora
Amplidão, nação, sertão sem fim
Ó Manuel, Miguilim
Vamos embora
(Chico Buarque – Assentamento)
Nair Goulart – Presidente da Força Sindical BA e Presidente Adjunta da CSI
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