Após muitas décadas de serviço à sociedade, o Hospital Espanhol da Bahia fecha as portas para o atendimento. A liberação dos últimos pacientes ocorreu na manhã dessa terça-feira, 09.
Com o fim das atividades, o estado perde 270 leitos, sendo 60 da Unidade de Terapia Intensiva – UTI, e 12 da UTI pediátrica.
O único setor que não foi atingido é o da hemodiálise, mas, ainda assim não há garantias que este sobreviva, uma vez que a unidade filantrópica continua com dificuldades para pagar seus funcionários.
A informação partiu do diretor do corpo clínico do hospital, Djean Amorim, que confirmou a liberação dos últimos pacientes. Por conta dos recorrentes problemas do hospital, será realizada uma reunião no Ministério Público Estadual, nesta quarta-feira, 10, a partir das 14h30, para discutir a crise do Espanhol, tendo a presença de membros da diretoria e do Sindicato dos Médicos da Bahia (Sindimed/BA).
Segundo o presidente do Hospital Espanhol, Demétrio García, o destino da unidade de saúde dependerá de um consentimento entre a Real Sociedade de Beneficência Espanhola e o Governo do Estado.
“Acreditamos que os problemas são mais fáceis de resolver quando temos o consentimento de todos, mas isso também dependerá da postura que o Estado tomará na resolução dos problemas”, explicou.
De acordo com a García, o setor de hemodiálise continua funcionando normalmente com 240 pacientes transplantados e 90 pacientes não transplantados. Além destes, havia 14 pacientes nos leitos de retaguarda, até o fechamento desta edição. Todos os pacientes estão sendo atendidos pelo Sistema Único de Saúde – SUS.
O presidente ainda desmentiu o rumor de que o Espanhol deixasse de funcionar como área de saúde. “Essa possibilidade nem passa pela nossa cabeça. Seria um déficit muito grande para a saúde do estado. Por isso, uma das nossas prioridades é que o local continue a funcionar como uma unidade de saúde”, explicou.
Uma prioridade que também encontra reflexo no interesse do Sindimed. “O hospital, apesar de filantrópico, é mantido pelo dinheiro público. Por isso é importante que busquemos uma solução, junto aos órgãos públicos, para que aquele espaço continue a funcionar como uma unidade de saúde”, explicou o presidente da entidade, Francisco Magalhães.
Em nota, a Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab) lamentou o fechamento da instituição secular, destacando que “fez diversas tentativas no sentido de ajudar esta unidade a sair da crise financeira em que se encontrava, inclusive participando do Conselho de Administração, com o seu representante ocupando a função de conselheiro executivo. No entanto, o ambiente institucional e administrativo da instituição impediu que o desfecho, agora presenciado, fosse alterado”.
Do ponto de vista assistencial, a Sesab informou que “não tem mais nenhum paciente sob sua responsabilidade no Hospital Espanhol e que desde o dia 18 de agosto, por solicitação através de ofício, assinado pelo superintendente do Espanhol, Cláudio Imperial, orientou a Central Estadual de Regulação a não encaminhar nenhum paciente para a referida unidade”.
A Tribuna entrou em contato com a assessoria do Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia – Cremeb. De acordo com a assessoria de comunicação, a diretoria da entidade estava em reunião e não tinha um posicionamento sobre o fim dos atendimentos no Hospital Espanhol.
Histórico
Há mais de dois anos, o Hospital Espanhol vive uma crise sem precedentes, que culminou na hipoteca do prédio do novo Centro Médico, à Caixa Econômica Federal, no final do ano passado, e em um processo de demissão em massa este ano, com a saída de mais de 800 empregados.
Ainda no ano passado, um acordo entre o Estado, através da Agência de Fomento do Estado da Bahia (Desenbahia), a Caixa Econômica e o Espanhol estabeleceu um plano de reestruturação financeira para salvar a unidade, mas mesmo assim não houve resultado. Dos R$ 107,6 milhões, o hospital recebeu R$ 82 milhões e ficou impedido de receber o restante por critérios exigidos pela Caixa.
Recentemente, o conselho da entidade ainda decidiu hipotecar a maioria dos prédios da Sociedade Espanhola ao Desenbahia, o que não foi efetivado pela falta de consenso entre as partes.
Enquanto isso, os funcionários do hospital continuam com seus salários atrasados. Somando todas as dívidas que a entidade filantrópica tem com instituições financeiras e fornecedores, o valor chega aos R$ 190 milhões.
Considerado como uma das referências no setor de saúde, o atendimento de Emergência do Hospital Espanhol encerrou as suas atividades, deixando uma grande lacuna na prestação desse serviço tão necessário para Salvador e Região Metropolitana.
Como resultado da falta dessa importante opção de assistência médica, os serviços de emergência de outros hospitais, a exemplo do Aliança, da Bahia, do Português e do São Rafael, estão sobrecarregados, levando, muitas vezes, pacientes em estado grave a esperar para serem atendidos. A decisão teve grande repercussão negativa pelos relevantes serviços prestados à população ao longo de décadas.
Os diversos segmentos da comunidade baiana esperam e confiam que os entes envolvidos na questão encontrem um meio de solucionar o caso, não só pela localização privilegiada do Hospital Espanhol como também pela explícita carência de leitos em todo o Estado da Bahia.
Tribuna da Bahia oline.
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