Aos 57 anos, ela já foi vereadora, deputada constituinte, prefeita de Salvador, deputada estadual e federal. Hoje ocupa uma vaga no Senado. Primeira mulher baiana a exercer o cargo, Lídice da Mata (PSB) sonha com vôos mais altos. Quer governar a Bahia. Ela deixou a base do governo em dezembro para atende a um ‘chamado’ do partido, que precisa de um palanque para o presidenciável Eduardo Campos.
Antes de deixar o arco que sustenta o governo baiano, Lídice disse ter tentado disputar a sucessão pela base. O pleito lhe foi negado. “Acho um equivoco que o PT tenha optado por manter-se à frente do projeto que era de muitos partidos”, revela a senadora.
Embora tenha saído do governo aos 45 minutos do segundo tempo, Lídice não vê a sua candidatura como de oposição, nem tampouco de situação. Diz que não pretende atacar os ex-aliados. Apesar do discurso de paz e amor, a pesebista assinou na sexta-feira passada requerimento para instalação da CPi da Petrobras. O alvo? O PT.
Bocão News – A senhora decidiu ser candidata ao governo do Estado e rompeu com o PT. Está confortável nessa situação?
Lídice da Mata - Meu partido, eu, os companheiros de estrada, de viagem política decidimos que era o momento de colocar uma candidatura do PSB para análise do público, não significa rompimento, é o afastamento do projeto atual de governo para construir uma nova proposta de governo na Bahia. Não gosto muito de briga, não costumo brigar, é mais fácil brigarem comigo do que eu com eles, embora tenho pegado fama oposta por causa do governador da Bahia que me atacava e eu só tinha a condição do contra-ataque. Como ele era mais forte nos meios de comunicação passou essa ideia de que eu brigo. Saí do governo de Wagner sem briga para apresentar um projeto para o Brasil e para a Bahia.
A senhora disse que não rompeu, mas como o eleitor vai entender que a sua candidatura é oposta a de Rui Costa, que o candidato da base?
Vai entender que existe outra candidatura, tem outra que não se sabe quem é, se Souto ou Geddel , dizem que nesse campo na aliança desses três partidos (DEM, PSDB e PMDB) talvez fiquem juntos ou se separem, existe a de Rui e a minha. O povo na pergunta isso, ele se identifica com quem está se colocando. Se fosse isso eu não estava pontuando bem nas pesquisas para o que nós temos.
Se não tivesse saído da base, a senhora estaria apoiando a candidatura de Rui Costa?
A senhora pleitearia ser a candidata da base?
Eu pleiteei antes disso. O PSB apresentou minha candidatura. Defendi que o governo tivesse outro partido para liderar o projeto político, um outro partido é sempre importante porque tem outra visão do mesmo projeto, é possível modificar as visões, uns acentua em cosia outros acentuam em outra. Acho que foi equívoco que o PT tenha optado por manter-se à frente de projeto que era de muitos partidos.
Marca do PT que não deixe que outros partidos cresçam, ascendam?
É do PT, mas é do velho fazer política no Brasil. Aquela história de que o partido que está no poder não pode abrir mão do poder. Se chegar ao poder sozinho pode até ter esse discurso, mas o PT não chegou sozinho nem no Brasil e nem na Bahia. O PT chegou com a força de muitos partidos e lideranças políticas tornam isso possível. Lula sempre foi líder grande, o mais forte da oposição do Brasil, saindo da ditadura militar, da esquerda, mas nuca se elegeu presidente, apenas na quarta vez quando foi capaz de se juntar ao máximo de lideranças e partidos para apoia-lo. O processo político é assim. Ele se dá numa agregação de valores. Começa pequeno, mas vai se ampliando. Na hora em que o governo decide que o candidato à prefeitura de Salvador tem que ser do PT, que o candidato à sucessão tem que ser do PT o processo fica estreito.
O PSB saiu do governo no final do ano passado, quando Domingos Leonelli deixou a Secretaria de Turismo. Qual a diferença entre o PSB e PT? Como vai explicar essa diferença ao eleitor?
Vou falar da minha candidatura e Rui vai falar da dele. As pessoas vão identificar as diferenças. Cada um tem sua história, o processo de luta política ele vai levando a que as pessoas vão construir histórias e vão se refletindo no voto. Vou colocar a minha opinião as propostas que devem trazer par a Bahia, na educação, saúde, turismo, na segurança pública, desenvolvimento. Certamente isso pode até ter conflito com o governo do Estado ou não. Eu não tenho obrigação, a minha meta de campanha não é dize que sou diferente de Rui...Eu sou, a minha história, a minha vida é diferente da dele. Ele é deputado valoroso, secretário trabalhador. Eu fui vereadora, deputada constituinte, prefeita de Salvador, deputada estadual por dois mandatos, deputada federal e finalmente senadora da Bahia. Essas posições vão me dando visão de Salvador, da Bahia e do Brasil. Ela está refletida na minha posição na campanha. Rui tem a história dele. Imagino que vá representar proposta de continuidade do governo.
Pelo que a senhora está falando não vai haver ataques da sua parte no que está aí.
Eu nunca ataquei em campanha alguma. Eu sempre fiz foi dizer minha diferença do poder do governo. Acho que precisa avançar na compreensão da democracia. Não é só eleger e estabelecer critérios de participação popular. É preciso que as decisões sejam construídas com esse conceito, inclusive a escolha do sucessor, do processo político, de articulação política, que tem que estar dentro desse patamar, desse projeto. Claro que quando apoiamos o governo não necessariamente discutimos, nem concordamos com todas as linhas e vírgulas. Marido e mulher não pensam igual, imagine dois partidos diferentes e participando do governo com mais oito outros. Claro que sempre tem diferença de visão. Vamos ter oportunidade de colocar nossa opinião com diferentes pontos de vista.
Na sexta-feira passada a senhora assinou requerimento para criação da CPI da Petrobras. Isso teria deixado os petistas irritados. Foi uma saia justa para a senhora?
Eu não estou preocupada com o que acha ou não o PT. Estou preocupada em responder o que a sociedade espera de mim. Eu tive dúvida sobre a assinatura da CPI da Petrobras, estava preocupada em defender a Petrobras e não deixar a fragilizar, receio de que a investigação tivesse conteúdo eleitoral, também compreendo para dar transparência a sociedade as indagações sobre o melhor caminho e de que maneira gestão do PT mostra que não tem medo da investigação significa defender a Petrobras também. Eu tenho por Gabrielli admiração, respeito e confiança. Isso não quer dizer que nada tenha que ser investigado porque eu tenho convicção individual. Meu partido fechou questão, nessa medida eu tenho dever de assinar, como senadora da Bahia, independentemente da posição dos outros senadores, que são meus companheiros de jornada. Acho que eu respondo a uma parte da sociedade baiana que deseja a assinatura. Recebi inúmeras manifestações em apoio a essa decisão.
A chapa em que a senhora encabeça está quase definida. Além da senhora, tem a ex-ministra Eliana Calmon. Fala-se muito na reedição da chapa ‘as três marias’. Há essa possibilidade?
Ela pode acontecer, mas não é o que estamos procurando. A história não se repete. Antigo pensador dizia isso. Nós pretendíamos, naquele momento, impactar a Bahia. Era final do século 20. Estamos saindo da primeira quinzena do século 21. Embora o valor da participação da mulher continua sendo um desafio, chapa com duas mulheres dá a dimensão do significado dessa questão feminina para nós. Mas ainda faltam duas pessoas na chapa, candidato a vice e o suplente ao Senado. Então, podemos construir uma chapa equitativa, com dois homens e duas mulheres. Não há dificuldade para isso.
Parece que o PSB está com dificuldade de fazer aliança. Do lado da oposição tem PSDB, DEM e PMDB, do lado do governo tem vários partidos. O que o PSB está fazendo para buscar apoio?
Conversando. Quando a gente se coloca contra uma máquina e o governo do Estado as alianças são lentas. Elas surgem da opinião de contradições na relação com o governo. O governo federal é forte, tinham alguns partidos fora da base, como o PR, mas foi recomposto. Tem um ministro baiano e isso levou a composição ao governo do Estado, sem demérito, o governo tem o que dar. Pra nós é uma composição mais difícil mesmo, mas, ainda assim, não é impossível. Conversamos com alguns partidos, alguns da base do governo, como o PP, PDT conversaram conosco. Estão com portas e janelas abertas para conversar conosco. Não há nada de mal na composição política partidária e eleitoral. Nós queremos construir alianças que sejam programáticas, mas também elas são eleitorais, Temos até junho para construir. Tem muitos partidos que vão, mas a franjas ficam. Tem os insatisfeitos com o tipo de aliança com a política pública exercitada no governo e vão se desprendendo de seus partidos e passando a ter posição de apoio a determinadas chapas, claro que os partidos são essenciais.
Até pelo tempo de TV.
Por conta do tempo de TV, mas não apenas por isso. Também para ampliar a base de apoio. Fundamental é falar para sociedade o que estamos fazendo.
Fonte: Bocão News
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