por Mateus Coutinho e Julia Affonso | Estadão Conteúdo
Foto: Bruna Castelo Branco / Bahia Notícias
Enquanto partidos tentam articular uma brecha para anistiar o caixa
2, em meio aos avanços da Lava Jato com delações que devem atingir as
principais siglas do país, um dos fundadores do Partido Social Cristão
(PSC), Vitor Abdala Nósseis, denunciou o candidato de sua própria
agremiação à Presidência em 2014, pastor Everaldo. Em petição ao juiz
federal Sérgio Moro, em Curitiba, Nósseis pediu que a força-tarefa da
Lava Jato investigue o pastor e o secretário-geral do PSC, Antônio
Oliboni. Na denúncia, Nósseis pede ainda ao juiz da Lava Jato que
bloqueie os bens de Everaldo e Oliboni. Segundo ele, o pastor e o
secretário-geral do partido receberam 'vultosas quantias de dinheiro' de
empresas investigadas na operação 'com indício de prática de crime de
lavagem de capitais e organização criminosa'. Como 'provas' das
suspeitas levantadas contra seus correligionários, Nósseis anexou à
denúncia comprovantes de doações registradas na Justiça Eleitoral ao PSC
e ao candidato à Presidência pela sigla em 2014. Uma das linhas de
investigação da Lava Jato é de que as doações oficiais eram uma forma de
lavar dinheiro de corrupção para as siglas e os candidatos. A tese é
uma das maiores preocupações dos partidos atualmente com o avanço da
operação. Até agora nenhum representante partidário havia afirmado que
as doações recebidas pela sigla eram propinas do esquema de corrupção na
Petrobras. Para o fundador do PSC, seus correligionários receberam
'vultosas quantias em dinheiro oriundo do esquema criminoso'.
"Verifica-se que esses repasses eram periódicos e aconteciam à medida
que o esquema criminoso se desenvolvia, confiantes na impunidade,
protegidos por parlamentares e membros do Executivo, mentores de todo o
esquema criminoso", segue a denúncia. A denúncia encaminhada para a sede
da Lava Jato, em Curitiba, não é o primeiro episódio em que Nósseis,
que presidiu o PSC por 30 anos, acusa seus correligionários na Justiça
por supostas irregularidades. Na convenção do PSC realizada em 17 de
julho do ano passado, ele foi destituído do cargo de presidente nacional
da legenda. Inconformado com o resultado ele está questionando a
convenção - que classifica como 'fraudulenta' - na Justiça. Até o
momento, seus questionamentos não obtiveram sucesso. Em manifestação a
Moro na quinta-feira (3), a força-tarefa da Lava Jato pediu
indeferimento da solicitação de Nósseis, que pediu para ser cadastrado
aos autos do processo. Segundo os procuradores da República que integram
a força-tarefa, o fundador do PSC não atende aos 'requisitos mínimos'
para ser cadastrado nas investigações penais da Lava Jato. "É possível
verificar que, embora os fatos narrados possam se inserir no âmbito do
esquema criminoso investigado na Operação Lava Jato, eles não se
relacionam diretamente com o objeto dos autos a que o peticionário
requereu habilitação. Os representados Everaldo Dias Pereira e Antônio
Oliboni não são partes e não trabalharam para as empresas investigadas
nos autos em consideração, não apresentando, em uma análise prévia,
conexão com os fatos que fundamentam as investigações neles promovidas, o
que demonstra que, efetivamente, não existe interesse do requerente em
ser habilitado aos autos", assinalam os procuradores da Lava Jato. Os
investigadores informaram ainda a Moro que também receberam a denúncia
feita por Nósseis e que ainda vão analisar o caso. Em nota, o
departamento jurídico do Partido Social Cristão (PSC) afirmou que
"lamenta que a Operação Lava Jato, a maior operação de combate à
corrupção já realizada no país, esteja sendo usada como objeto de
disputa pessoal por um dos seus quadros."
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