por Fabiana Cambricoli e Paula Felix | Estadão Conteúdo
Foto: José Cruz/ Agência Brasil
Classificada pelo ministro da Saúde, Ricardo Barros, como o pior
problema de saúde que o Brasil deverá enfrentar no próximo verão, a
chikungunya já mostra seu poder de disseminação antes mesmo da chegada
da estação. Dados do Ministério da Saúde mostram que a doença já está
presente em dois de cada cinco municípios brasileiros e, só neste ano,
já provocou 138 mortes. Se o verão de 2014/2015 foi marcado por uma
epidemia recorde de dengue no País e o de 2015/2016 causou pânico pela
descoberta da relação do vírus zika com a ocorrência de microcefalia, a
estação de 2016/2017 deverá, segundo especialistas, registrar uma
explosão de casos de chikungunya se a circulação do vírus seguir a mesma
tendência observada neste ano. O número de notificações da doença
passou de 38,3 mil, em 2015, para 251 mil em 2016. No ano passado, 696
cidades brasileiras foram atingidas pela chikungunya. Em 2016, já são
2.281 municípios. Pelo menos sete Estados brasileiros já registram
índices epidêmicos do problema - mais de 300 casos por 100 mil
habitantes -, todos no Nordeste. "Eu diria que 2016 jáé o ano em que a
chikungunya está muito preocupante e, apesar disso, ainda temos muita
falta de informação", diz o infectologista Rivaldo Venâncio, diretor da
Fiocruz Mato Grosso do Sul. Dimensionar com exatidão o alcance da
epidemia esbarra nas limitações dos métodos diagnósticos. As semelhanças
entre os vírus da chikungunya, zika e dengue e de alguns dos seus
sintomas dificultam a criação de testes precisos e podem causar
confusões quando o diagnóstico é feito somente por avaliação clínica,
prática comum em períodos epidêmicos. Presidente da Sociedade Brasileira
de Dengue e Arboviroses, o infectologista Artur Timerman afirma que, de
um modo geral, as epidemias costumam começar com poucos casos, que se
tornam crescentes, chegam ao ápice e caem. "A chikungunya teve relatos
de casos há cinco anos no Nordeste. Depois, houve um grande número de
casos relatados há dois anos, um ano antes da zika. Está seguindo o
trajeto que seguiu a dengue", diz. Timerman diz que a postura do
Ministério da Saúde de alertar sobre a possibilidade de maior
disseminação da doença não terá efeitos na população sem ações de
combate ao mosquito associadas a mudanças nas cidades. "Estamos com três
vírus circulando e não sabemos o impacto disso. Esse é um dos problemas
de saúde pública mais dramáticos. Fala-se em combater o vetor de forma
emergencial, mas é preciso pensar em saneamento básico, cidades menos
impermeabilizadas e com mais áreas verdes". O ministério afirmou, em
nota, que o aumento de casos era previsto, uma vez que a doença é
recente e, por isso, há mais pessoas suscetíveis. A pasta diz ainda que
tem se preparado para o próximo verão, intensificando as ações de
prevenção e combate ao mosquito, com medidas como mobilizações nacionais
para coleta de pneus e conscientização da população sobre a importância
da continuidade das ações de combate ao mosquito.
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