Foto: Fernanda Carvalho/ Fotos Públicas
Um estudo publicado nesta sexta-feira (01°) na revista
"International Journal of Epidemiology" apontou que a ingestão do
paracetamol durante a gestação pode aumentar os sintomas do Transtorno
do Espectro Autista (TEA) e da hiperatividade em crianças. A pesquisa
descobriu que o uso tem associação com sintomas do autismo em meninos e
com sintomas relacionados ao déficit de atenção e a hiperatividade em
ambos os sexos. O pesquisador do Instituto de Salud Global, de
Barcelona, e coautor da pesquisa, Jordi Júlvez, afirmou que este é o
primeiro estudo que descreve uma associação independente entre o uso do
fármaco durante o pré-natal e os sintomas do TEA em crianças. É a
primeira análise, também, que indica diferentes efeitos do paracetamol
sobre o neurodesenvolvimento conforme o sexo. Para chegar a essa
conclusão, o estudo comparou meninos e meninas expostos de forma
persistente ao paracetamol com os não expostos. Segundo a Exame, foi
encontrado um aumento de 30% de risco para algumas funções da atenção e
aumento dos sintomas do espectro autista no caso dos meninos. Foram
recrutadas 2.644 duplas de mãe e filho da Espanha. Uma parte era
avaliada quando a criança estava com um ano, enquanto outra parte era
avaliada aos cinco anos. As mães respondiam questionários afirmando a
frequência de uso do medicamento, classificando como “nunca,
esporadicamente ou frequentemente”. Em 43% dos casos das crianças
avaliadas com um ano e em 41% dos casos das crianças avaliadas aos cinco
anos a exposição ao paracetamol aconteceu em algum momento durante as
primeiras 32 semanas de gravidez. Quando as crianças foram avaliadas aos
cinco anos, as que tinham mães que consumiam paracetamol apresentavam
aproximadamente 40% mais chances de ter sintomas de hiperatividade ou
impulsividade que os não expostos. Meninos e meninas expostos de forma
persistente mostraram pior rendimento no K-CPT, um exame que mede a
falta de atenção, a impulsividade e a velocidade de processamento
visual. Os meninos expostos persistentemente ao medicamento apresentaram
um aumento de dois sintomas do Transtorno do Espectro Autista, se
comparados aos meninos não expostos. "O paracetamol poderia ser
prejudicial para o desenvolvimento neurológico por várias razões. Em
primeiro lugar, ele alivia a dor ao atuar sobre os receptores de
canabinóides do cérebro. Dado que estes receptores, normalmente, ajudam a
determinar como os neurônios amadurecem e se conectam entre eles, o
paracetamol poderia alterar estes processos", detalhou Júlvez. A
principal autora do estudo, médica Claudia Avella-García, esclareceu que
a relação do aumento de sintomas do espectro autista ter acontecido só
em meninos pode acontecer pelo fato de "o cérebro masculino parecer ser
mais vulnerável a influências danosas durante os primeiros períodos da
vida".
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